quinta-feira, maio 19

Ubuntu para você!


UBUNTU
 
 A jornalista e filósofa Lia Diskin, no Festival Mundial da Paz, em Floripa (2006), nos presenteou com um caso de uma tribo na África chamada Ubuntu.

Ela  contou que um antropólogo estava estudando os usos e costumes da tribo e, quando  terminou seu trabalho, teve que esperar pelo transporte que o levaria até o aeroporto de volta pra casa. Sobrava muito tempo, mas ele não queria catequizar os membros da tribo; então, propôs uma brincadeira pras crianças, que achou ser inofensiva.

Comprou uma porção de doces e guloseimas na cidade, botou tudo num cesto bem bonito com laço de fita e tudo e colocou debaixo de uma árvore. Aí ele  chamou as crianças e combinou que quando ele dissesse "já!", elas deveriam sair  correndo  até o cesto, e a que chegasse primeiro ganharia todos os doces que estavam lá dentro.

As crianças se posicionaram na linha demarcatória que ele desenhou no chão e esperaram pelo sinal combinado. Quando ele disse "Já!", instantaneamente todas  as crianças se deram as mãos e saíram correndo em direção à árvore com o cesto.  Chegando lá, começaram a distribuir os doces entre si e a comerem felizes.

O antropólogo foi ao encontro delas e perguntou porque elas tinham ido todas juntas se uma só poderia ficar com tudo que havia no cesto e, assim, ganhar muito mais doces.

Elas simplesmente responderam: "Ubuntu, tio. Como uma de nós  poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?"
 
Ele ficou desconsertado! Meses e meses trabalhando nisso, estudando a tribo, e ainda  não havia compreendido, de verdade, a essência daquele povo. Ou jamais teria proposto uma competição, certo?

Ubuntu significa: "Sou quem sou, porque somos todos nós!"


Recebi esta mensagem pela Maria Isabel, contadora de histórias, que faz curso comigo na biblioteca Hans. 

Fiquei querendo saber mais, entender/conhecer sobre quem escreveu esta história, e "dei um google" para ver o que encontrava na blogosfera. E achei um artigo publicado na Revista do Instituto Humanitas Unisinos no último mês de dezembro. Começava assim:
"Sou porque nós somos”: em uma frase, esse seria o resumo da ética ubuntu. Porém, é na construção histórica e cultural dessa ética que nasce na África, que se encontra a sua riqueza. Para o filósofo e teólogo congolês Bas’Ilele Malomalo, toda existência é sagrada para os africanos, ou seja, há um pouco do divino em tudo o que existe. Por isso, “o ubuntu retrata a cosmovisão do mundo negro-africano”. 
É por isso que o suposto antropocentrismo que poderia estar por trás do ubuntu é “relativista”, segundo Malomalo, nesta entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line. “O ser humano africano sabe que nem tudo depende da sua vontade”, afirma. “Esta depende também da vontade dos ancestrais, dos orixás”, em suma, do sagrado.

Por outro lado, ubuntu e felicidade são conceitos que andam juntos: “Na África, a felicidade é concebida como aquilo que faz bem a toda coletividade ou ao outro”. E quem é o meu “outro”? “São meus orixás, ancestrais, minha família, minha aldeia, os elementos não humanos e não divinos, como a nossa roça, nossos rios, nossas florestas, nossas rochas”. Dessa forma, resume Malomalo, para a filosofia africana, “o ser humano tem uma grande responsabilidade para a manutenção do equilíbrio cósmico”.

Bas’Ilele Malomalo é natural do Congo, África, e possui graduação em Filosofia pelo Grand Seminaire Fraçois Xavier – Filosoficum e em teologia pelo Instituto São Paulo de Estudos Superiores – Itesp. É mestre em ciências da religião pela Universidade Metodista de São Paulo e é doutorando em sociologia pela Universidade Estadual Paulista – Araraquara. Atualmente é pesquisador do Centro dos Estudos das Culturas e Línguas Africanas e da Diáspora Negra da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Cladin-Unesp."
Depois que li o referido texto encontrado, "sou porque somos" me tocou ainda mais profundamente. Esta concepção ética africana desafia o estilo de vida da sociedade contemporânea.

Para os povos de língua bantu, esse termo significa “eu sou porque nós somos”. Essa “filosofia do Nós” pensa a comunidade, em seu sentido mais pleno, como todos os seres do universo. Todos nós somos família.

Fiquei pensando:
Qual o meu papel no mundo?
Qual o meu compromisso com o outro?
Numa época que estamos mais voltados para "Eu quero, eu posso, eu mando e obedece quem tem juízo", o que quero deixar para o outro?
Minha ação concreta muda algo/alguém no mundo?
Se toda ação minha eu deixo uma reação no universo, está sendo a melhor atitude?
Como tenho vivido?
Será que meu foco esta acertado ou esta um pouco embaçado?
Que escolhas eu tenho feito todos os dias? São as mais acertadas?
Estou me relacionando bem comigo e com universo?

Há quem diga que dezembro é um mês diferente. Mês de reflexão, mês de olhar o que você fez  e deixou de fazer. Mês das promessas de final de ano. De lista dos planos para ano novo. Novos planos e objetivos. Quem nunca as fez?
Para mim, este momento de reflexão acontece exatamente quando finda um ciclo de minha vida. É quando eu paro e vejo, o que fiz nestes últimos 365dias. Até perguntei a minha amiga Janaina se eu estaria no meu "inferno astral". Ela sabiamente me respondeu:  
 "Oi Amiga Elaine Cunha !! Não existe Inferno Astral, amiga. Isso é crendice popular. O que pode estar ocorrendo é você, neste período, estar passando por algum ciclo planetário, onde algum planeta transitando no céu "toca" outro no seu mapa ...astral natal, fazendo com que você se sinta assim. Coincidiu com um mês antes do seu aniversário, mas na Astrologia realmente não tem a ver com "Inferno Astral", pois a gente pode passar por períodos negativos ou positivos em todas as fazes da vida e meses do ano, independente de ser 1 mês antes do nosso níver."
Que bom que não existe Inferno Astral. Até porque que nome feinho, hein?

"O mais importante é a mudança, o movimento, 
o dinamismo, a energia. 
Só o que esta morto não muda" 
(Clarice Lispector)

Ubuntu para você!


Para ler a matéria completa, inclusive a entrevista com o Bas´Ilele Molamalo, acesse aqui


Até a próxima!
Elaine Cunha


Imagem: google.com

8 comentários:

  1. Quando TODOS compreendermos a clareza de que "somos todos um" teremos iniciado, finalmente, a amar o próximo como a nós mesmos.
    Ubuntu, Elaine!
    Namastê!

    ResponderExcluir
  2. Ubuntu, que riqueza este texto, agradecemos o compartilhamento! Um abraço refletindo "Sou quem sou, porque somos todos nós!"

    ResponderExcluir
  3. A-MEI!!!!!!! E você com dúvida em escrever historinha, querida? Tá desperdiçando seu dom!!! :-)

    Beijão

    ResponderExcluir
  4. Querida Elaine,

    Essa palvra é a essência da regra básica "Faça aos outros o que gostaria que os outros fizessem para você".
    Adorei essa mensagem e precisamos praticar o UBUNTU.
    Beijocas da Cris

    ResponderExcluir
  5. Lindo texto, palavras lindas!!!!!
    Isso sim, é o verdadeiro motivo de VIVER.
    Laine, eu simplesmente AMEI.
    Obrigado por compartilhar conosco esse dom que você possui,adoro você.
    Beijos, beijos, beijos.

    ResponderExcluir
  6. O texto tem uma observação cheia de meiguice..que não poderia vir de outra pessoa em outro momento... seria ótimo se todos que passassemos algum momento de reflexão nos deparecemos com questionamentos tão mais humanos do que egocêntricos, se todo mundo pensasse mais em pq não pensamos em nós como parte de tudo, do outro, do universo, ao invéz disso, infelizmente, as pessoas só olham pra seu próprio umbigo, e é por essas e outras, como cada um querendo o cesto de doce pra si próprio, sem dividir, sem repartir, sem compartilhar, que estamos num mundo como estamos hoje: triste e meio abandonado, por nós mesmo! eu vivo num mundo cheio de amor, graças a Deus, mas sei, é fácil ver em volta, na tv, nas ruas, que não é bem assim com todo mundo..que não somos a muito tempo mais um só, e que por isso estamos, ai sim TODOS, perdendo o melhor do nosso mundo, da nossa vida...

    ResponderExcluir
  7. Amiga ao ler este belo post veio à minha mente uma mensagem que recebi há uns anos: "a colher de cabo comprido".
    Acredito que você conheça esta mensagem.
    Sou partidária do pensamento de que ninguém pode ser completamente feliz sozinho.
    De certa forma, dentro das limitações que tenho, tento viver a filosofia Ubuntu.
    Ubuntu para mim é ser humano, solidário, caridoso.
    Eu acredito que um dia a humanidade inteira vai viver esta filosofia que, para mim, é também o ensinamento de Jesus.
    Ubuntu! Nasmatê! *_*

    ResponderExcluir

A conversa sempre continua aqui nos comentários! Comenta aí! E vamos "trocar figurinhas"

Abraços!
Elaine Cunha