Hoje começa a
Primavera. É uma das estações que eu mais aprecio. Adoro andar na rua e ver as
árvores desabrochando...
Ontem mesmo, eu
vi um cena digna de fotografia! Eu estava indo ao curso, finalzinho da tarde,
carro parado no sinal, olhei para o lado e falei:
“Olha que cena linda!”
E descrevi ao
marido que estava dirigindo: "Um homem
passeando com seu cachorro labrador dourado, numa calçada. Eles caminhavam numa
linda praça, muitas árvores e no chão, dando o contraste na cor rosa, muitas
das flores caídas." Não sei dizer que árvore era. Mas eu fiquei ali olhando
aquele passeio, admirando todo o conjunto. Parecia um paisagem, uma cena
cotidiana pintada a tinha guache num quadro. Tenho certeza que aquela imagem
não a verei novamente. Foi momento ímpar, único. Confesso. Senti falta de minha máquina fotográfica
comigo naquele momento.
É tão bom quando
andamos na rua com o olhar desatento que a tudo se encanta. Vemos tanta beleza
que no corre-corre diário não enxergamos, não é? Se eu te contar que eu paro
para ouvir passarinho cantar na rua você me acharia uma louca? Que eu adoro, no
final da tarde, ficar na minha janela e ouvir jandaias cantar? Que eu me encanto quando o beija-flor
fica na minha janela como se tivesse dançando para mim? Ah, pode dizer com toda
certeza do mundo: sou uma bobona de carteirinha!
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Momento perfeito registrado da minha janela! |
Mas o que tem
isto haver com o dia de hoje mesmo?
Ah, Primavera!
Doce Primavera! Colorida Primavera!
Aquela cena me
lembrou a história de uma lagarta muito comilona que estava acabando com
todas as folhas da floresta. Reunidos, a Formiga, o Louva-a-deus, o Camaleão e
o Caracol decidiram acabar com ela, já que só trazia prejuízo para todos. Mas
era primavera, e a lagarta tinha desaparecido... Já
sabe que qual história eu estou te falando?
A Primavera da Lagarta
(Ruth Rocha)
Hoje! Grande comício na floresta!
Bem no meio da clareira, debaixo da bananeira!
Dona Formiga convocou a reunião:
Isso não pode continuar!
- Não pode não! – apoiava o Camaleão.
- É um desaforo! – a Formiga
gritava.
- É mesmo! – o Camaleão concordava.
A Joaninha, que vinha chegando naquele instante,
perguntava:
- Qual é o desaforo, hein?
- É um desaforo o que a lagarta faz! – dizia a
Formiga.
- Come tudo o que é folha! – reclamava o
Louva-a-Deus.
- Não há comida que chegue! – continuava a
Formiga.
A Lagartixa não concordava:
- Por isso não, que as senhoras formigas
também comem...
- É isso mesmo! – apoiou o
Camaleão que vivia mudando de opinião.
- É muito diferente – disse a formiga
– Depois a Lagarta é uma grande preguiçosa. Vive lagarteando por ai...
- Vai ver que a Lagartixa é parente da
Lagarta – disse o Camaleão, que já tinha mudado de opinião.
- Parente, não – falou a Lagartixa – É
só uma coincidência de nome.
- Então não se meta! – disse a formiga.
- Abaixo a Lagarta! – disse o
Gafanhoto – Vamos acabar com ela!
- Vamos, sim! – gritou a Libélula – Ela é
muito feia!
O senhor Caracol ainda quis fazer um discurso:
- Minhas senhoras e meus senhores. Como
é pro bem geral e para a felicidade nacional, em meu nome e em nome de todo
mundo interessado, como diria o Conselheiro Furtado, quero deixar consignado
que está tudo errado...
Mas, como o Caracol era muito enrolado, ninguém prestava
atenção no coitado.
Já estavam todos se preparando para caçar a Lagarta.
- Abaixo a feiúra! – gritava a
Aranha, como se ela fosse muito bonita.
- Morra a comilona! – exclamava o
Louva-a-Deus, como se ele não fosse comilão também.
- Vamos acabar com a preguiçosa! – berrava a
Cigarra, esquecendo de sua fama de boa vida.
E lá se foram eles! Cantando e marchando:
UM, DOIS, FEIJÃO COM ARROZ...
TRÊS, QUATRO, FEIJÃO NO PRATO...
Mas... a Primavera havia chegado.
Por toda parte havia flores na floresta. Até parecia
festa...
Os passarinhos cantavam... E as Borboletas – quantas
Borboletas! – de todas as cores, de todos os tamanhos, borboleteavam pela mata.
E os caçadores procuravam pela Lagarta.
UM, DOIS, FEIJÃO COM ARROZ...
E perguntavam às Borboletas que passavam:
- Vocês viram a Lagarta que morava na
amoreira?
- Aquela preguiçosa, comilona,
horrorosa!
As Borboletas riam, riam... Iam passando e não respondiam.
Até que veio chegando uma linda Borboleta:
- Estão procurando a Lagarta da
amoreira?
- Estamos sim! Aquela horrorosa!
Comilona!
E a Borboleta bateu as asas e falou:
- Pois sou eu...
- Não é possível, não pode ser verdade!
Você é linda!
E a Borboleta, sorrindo explicou:
- Toda Lagarta tem seu dia de Borboleta.
É só esperar pela Primavera...
- Não é possível! Só acredito vendo!
E a linda borboleta falou:
- Venha ver. Isto acontece com todas as
Lagartas. Eu tenho uma irmã que está acabando de virar Borboleta.
E todos correram para ver. E ficaram quietinhos,
espiando... E a Lagarta foi se transformando... Foi se transformando...
Até que de dentro do casulo, nasceu uma Borboleta.
Os inimigos da Lagarta ficaram admirados.
- É um milagre! – disse a
Formiga, envergonhada.
- Bem que eu falei! – disse o
Camaleão, que já tinha mudado de opinião.
E a Borboleta falou:
“É preciso ter paciência com as Lagartas
se quisermos conhecer as Borboletas”.
Primavera, seja bem vinda! Traga com você todas as transformações! Com o desabroxar das flores e o nascimento das borboletas, renove a esperança!
Até a próxima!
Elaine Cunha