Ai ai... Muitas emoções vividas por aqui. Estou (re)começando minhas estripulias, querido leitor. Eu tenho tanta coisa para te contar por aqui. Porém, vamos por partes, não é?
Para não ficar parecendo aquela redação da nossa época escolar - aquela que todo semestre tinha o tema "Minhas férias" - retomo com um belo texto que recebi da Gisele. É um trecho do livro "O Arroz de Palma" de Francisco Azevedo. Para colorir, ainda mais, meu momento mãezona!
"Família"
Família é prato difícil de preparar. São
muitos ingredientes. Reunir todos é um problema...Não é para qualquer
um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de
desistir...Mas a vida... sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e
abrir o apetite.
O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os
lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida. Fulana sai a
mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e
comunicativo, unanimidade. Sicrano, quem diria? Solou, endureceu,
murchou antes do tempo. Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante.
Aquele, o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A
outra, a mais consistente...Já estão aí? Todos? Ótimo. Agora, ponha o
avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo,
logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não se envergonhe
de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De
alegria, de raiva ou de tristeza.
Primeiro cuidado: temperos exóticos
alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, estas
especiarias, que quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem
estranhas ao paladar tornam a família muito mais colorida, interessante e
saborosa. Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais
disso ou daquilo e, pronto: é um verdadeiro desastre. Família é prato
extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem
medido.
Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional.
Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter a
colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de
toda a família, só porque meteu a colher na hora errada.
O pior é que
ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem.
Tudo ilusão. Não existe Família à Oswaldo Aranha; Família à Rossini,
Família à Belle Manière; Família ao Molho Pardo (em que o sangue é
fundamental para o preparo da iguaria). Família é afinidade, é à Moda da
Casa. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito. Há famílias
doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que
não têm gosto de nada, seria assim um tipo de Família Dieta, que você
suporta só para manter a linha.
Seja como for, família é prato que deve
ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável,
impossível de se engolir. Enfim, receita de família não se copia, se
inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o
que sabe no dia a dia.
A gente cata um registro ali, de alguém que sabe
e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se
perde na lembrança. Principalmente na cabeça de um velho já meio caduco
como eu. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem
graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que
experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie.
Não ligue para
etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na
louça, no alumínio ou no barro. Aproveite ao máximo. Família é prato
que, quando se acaba, nunca mais se repete.
Quando eu li este texto, peguei-me pensando em tudo o que estou vivendo. Parece que quando recebemos a graça de gerar uma criança, tudo no universo conspira. A cada escolha do enxoval, eu sinto a presença das pessoas que amo e por quem eu sou amada. É como se eu sentisse que a distância não existe. Nem a distância entre os planos.
Vou te confessar: o quarto do bebê será verde. Verde. Cor preferida de minha avó. Ela estará junto de nós.
É ou não é uma bela história de vida que está sendo construída?
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Até a próxima!
Elaine Cunha