CAMINHANDO
COM
Cristiane
Takemoto.
O que são (ou não) Contos de Fadas.
Contos de fadas sempre me
encantaram. Como eu não tinha irmãs, os disquinhos coloridos que acompanhavam
grandes livros enchiam de sons as minhas fantasias. Desde aquela época, quando
penso nessas histórias muitas sensações e sentimentos se misturam e hoje, posso
entender que sempre foi assim.
Pesquisas mostram que desde
tempos muito remotos o homem narrou. Ora através de desenhos nas paredes das
cavernas onde habitava, ora com seu grupo, em torno de uma fogueira.
Provavelmente essas narrativas originais eram uma mistura de sons guturais,
gestos e rabiscos.
Com o passar do tempo, o
homem deixou de vagar e se fixou. Passou a cultivar a agricultura, a enterrar
os mortos e a cultuar as forças da natureza. Os pequenos grupos cresceram e a
transmissão oral dos conhecimentos e experiências tornou-se, além de uma
estratégia de preservação da vida, uma atividade relacionada à cultura e ao
lazer.
A palavra "fada" tem origem portuguesa e vem do latim fatum, que se refere a destino, fatalidade e surgiu na
literatura medieval nas novelas de cavalaria do Ciclo Arturiano, onde textos de
influência céltica falavam sobre os personagens da época. Nesse tempo, as
narrativas eram orais e parafraseavam a vida, voltadas para o público
adulto.
Em uma época em que não havia cinema nem televisão, o francês
Charles Perrault se tornou um notório contador dessas histórias para os nobres
convidados para as festas do Palácio de Versalhes. Seu livro Contos da Mãe Gansa (1697) contava histórias populares com uma linguagem mais
refinada e teve uma repercussão equivalente a dos best-sellers da atualidade. Sua história
mais famosa é Chapeuzinho Vermelho, um Conto de Fadas sem fadas.
Cento e quinze anos depois, os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm
publicam Contos da Criança e do Lar
(1812), o primeiro livro totalmente direcionado ao público infantil. Nesta nova
perspectiva, os contos populares tornaram-se menos divergentes dos valores
pregados pelo cristianismo e passaram a ser vistos como literatura infantil.
Também conhecidos como contos de fadas, as histórias de Hans
Christian Andersen diferem um pouco, pois são produto de sua própria imaginação
e não originárias da tradição popular. Para esse autor, os verdadeiros contos
de fadas serviram de inspiração para a transformação das dificuldades em lindas
histórias que falam de pobreza, discriminação e do desejo de realização
pessoal.
Outro autor de literatura infantil entusiasta dos contos de fadas
foi Carlo Collodi, um jornalista italiano que fez sucesso contando a história
de um boneco de madeira chamado Pinóquio, que ganhou vida e passou por muitas estripulias.
Inicialmente, As Aventuras de Pinóquio
(1883), eram publicados em episódios semanais, só depois foram editadas como
literatura infantil. Embora tenha entre seus personagens a figura da Fada Azul,
do ponto de vista literário, este livro não se enquadra no gênero Contos de
Fadas.
Matemático inglês e crítico do estilo de vida aristocrático
vitoriano, Lewis Carrol usou a fantasia e o non-sense
para escrever Alice no País das
Maravilhas (1865), e atacar as certezas, as normas e os limites impostos
pela sociedade inglesa de sua época. Com gravuras que remontam ao cenário medieval
e personagens fantásticos, a versão original da história, em inglês, traz
piadas e jogos linguísticos que só fazem sentido naquela língua.
Ainda nesta linha, Lyman Frank Baum fez uma espécie de releitura
dos contos de fadas a partir da perspectiva americana e escreveu
O Mágico de Oz (1900), onde
valorizou a inteligência, a generosidade, a coragem e a perseverança. Simpatizante
do Partido Populista, o livro de Baum é cheio de simbolismos como vendavais e
uma estrada de ouro, além de valorizar a coragem, o conhecimento e a bondade.
Finalmente, o escocês James Barrie
iniciou sua vida como dramaturgo em Londres e mergulhou na própria imaginação para defender
os direitos das crianças à fantasia e contra a abreviação da infância. Peter Pan (1911) nasceu como peça
teatral em 1904 e só depois virou livro.
Os personagens principais remetem aos dissabores da vida amorosa do autor.
Enfim, contos de fadas originais ou histórias criadas a partir de
sua inspiração, o fato é que essas histórias vêm encantando crianças e adultos
ao longo dos séculos. Ler, ouvir e recontar essas narrativas é uma atividade extremamente
prazerosa para crianças de todas as idades.
Dos tempos medievais aos
dias atuais muita coisa mudou, mas os contos mantém sua importância como
construção simbólica que simultaneamente preserva a essência dos conflitos
primordiais e se renova com diferentes linguagens. Hoje, as histórias são
contadas em belas edições impressas, em enormes telas de cinema ou em formato tablet. Há
também versões de plástico para “ler” durante o banho, gibis e shows com
efeitos especiais.
Uma prova irrefutável da preciosidade dessas histórias e do quanto
são estimadas é o sucesso dos filmes e parques da Disney. Walter Elias Disney
foi sem dúvida o representante da fantasia e da imaginação na modernidade. Suas
produções, ainda que com algumas alterações, trouxeram vigor e brilho para as
antigas histórias da tradição oral.
Atualmente, muitas pessoas ignoram a origem dos contos e até mesmo
suas versões anteriores ou que algumas histórias parecem, mas não são contos de
fadas originais. Em todo caso, as tantas modificações pelas quais passaram as
histórias são apenas adequações ao tempo e espaço. E se por um lado essas
atualizações às afastam de suas raízes, por outro, as aproxima dos
leitores/ouvintes de hoje.
Enfim, podem mudar as maneiras de escrever e/ou contar as
histórias, mas se elas tiverem personagens com os quais há identificação e se
falarem de aspectos primordiais da natureza humana, dos dramas, conflitos e
desejos comuns a quase todas as pessoas, certamente serão um sucesso.
E é
por isso que continuamos contando e recontando os
contos de fadas. Eles contribuem para o nosso autoconhecimento, para que
possamos compreender melhor nossos anseios, conflitos e limitações, nos
oferecem oportunidade de interação, exercitam nossa memória, estimulam a
capacidade de planejamento e confirmam nossa habilidade natural para a
transmissão de conhecimentos através de diferentes linguagens.
Essa é a magia dos contos de
fadas!
Para saber mais, consulte:
ANDERSEN, Hans Christian. Os mais belos
contos de Andersen. São
Paulo: Editora Moderna, 2008.
COELHO, Nelly N. O conto de
fadas. São Paulo: Editora Ática: 1987.
CONTOS DE FADAS DISNEY: http://www.disney.com.br/princesas
GRIMM, Jacob e Wilhelm. Contos de Grimm vol. 1 e 2 PA: L&PM, 2001.
PERRAULT,
Charles. Contos de Perrault. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
Até a próxima semana!
Cristiane
Takemoto
Fonoaudióloga, Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional, com formação em
Psicanálise Clínica e Mestrado em Linguística.
E vamos continuar contando e acompanhando aqui...beijos,chica
ResponderExcluirOi, Chica!
ExcluirE também esperando as próximas publicações da Cristiane. Ela é fera!
beijos, Elaine
Bom demais passear nesta seara da magia.
ResponderExcluirPinóquio bem que poderia ser um conto, né?
Beijos e parabéns pela escrita, Cris!
Mas então, não é na origem mas tornou-se por obra do senso comum!
ResponderExcluirObrigada pelo carinho!
Bjs