quinta-feira, julho 26

Parabéns, Vovó e Vovô!


Hoje, 26 de julho, é o Dia dos Avós. Parabéns a todos os vovôs e vovós! Foi escolhido este dia para a comemoração porque é o dia de Santa Ana e São Joaquim, pais de Maria e avós de Jesus Cristo.

Conta a história que Ana e seu marido, Joaquim, viviam em Nazaré e não tinham filhos, mas sempre rezavam pedindo que o Senhor lhes enviasse uma criança. Apesar da idade avançada do casal, um anjo do Senhor apareceu e comunicou que Ana estava grávida, e eles tiveram a graça de ter uma menina abençoada a quem batizaram de Maria. Santa Ana morreu quando a menina tinha apenas 3 anos. Devido a sua história, Santa Ana é considerada a padroeira das mulheres grávidas e dos que desejam ter filhos. Maria cresceu conhecendo e amando a Deus e foi por Ele a escolhida para ser Mãe de Seu Filho. São Joaquim e Santa Ana são os padroeiros dos avós.


*Tirinha por Charles Schulz do Depósito de Titinhas

Parabéns a todos os avós!!!! Especialmente para os avós do Pedro Ivan! 

Até a próxima!
Elaine Cunha

segunda-feira, julho 23

O perigo de uma única história

Recebi, há alguns dias atrás, um email fofo da Agnes. Compartilho com você na integra para você apreciar a dica.

"Oi pessoal,
Como estão?
Eu gostaria de indicar um vídeo que vi recentemente em uma palestra 
e achei que me trouxe uma nova visão em relação à contar histórias. 
Não sei se vocês conhecem.
Nunca tinha pensado no assunto, nem nesse período de um ano de 
participação do Viva, nem nos meus cinco anos de contação de histórias para os meus filhos.
O vídeo mostra o perigo de contar sempre um mesmo tipo de historias para crianças, e acho que seria interessante se vocês pudessem passar isso a todos os contadores que conhecerem, pois como eu, pode ser que mais alguém não tenha pensado no assunto.
http://www.youtube.com/watch?v=O6mbjTEsD58
Chimamanda Adichie: O perigo de uma única história
Vídeo em duas partes, legendado, no Youtube.
Bjs.
Agnes"


Então, para te ajudar... Vamos aos vídeos.



Chimamanda Adichie: O perigo de uma única história - Parte 1




Chimamanda Adichie: O perigo de uma única história - Parte 2



Até a próxima!
Elaine Cunha

sexta-feira, julho 20

Aprender a escrever na areia!

Hoje, dia 20 de julho, é comemorado o Dia do Amigo!
Para festejar este dia, trago um conto bem bonito para você! Esta no livro duplo (de um lado, "O homem que calculava", e do outro, "Os melhores contos") que ganhei da Márcia da Plenitude do Ser. Presente maravilhoso, não foi?


Então, um conto para nunca esquecer de quando escrever na areia e de quando gravar na pedra!



Dois amigos, Mussa e Nagib, viajavam pelas extensas estradas que circulam as tristes e sombrias montanhas da Pérsia. Ambos se faziam acompanhar de seus ajudantes, servos e caravaneiros.

Chegaram, certa manhã, às margens de um grande rio, barrento e impetuoso, em cujo seio a morte espreitava os mais afoitos e temerários.
Era preciso transpor a corrente ameaçadora. Ao saltar, porém, de uma pedra, o jovem Mussa foi infeliz. Falseando-lhe o pé, precipitou-se no torvelinho espumejante das águas em revolta. Teria ali perecido, arrastado para o abismo, se não fosse Nagib.
Este, sem um instante de hesitação, atirou-se à correnteza e, lutando furiosamente, conseguiu trazer a salvo o companheiro de jornada.
- Que fez Mussa ?
Chamou, no mesmo instante, os seus mais hábeis servos e ordenou-lhes gravassem na face mais lisa de uma grande pedra, que perto se erguia, esta legenda admirável:
"Viandante! Neste lugar, durante uma jornada, Nagib salvou, heroicamente, seu amigo Mussa".
Isto feito, prosseguiram, com suas caravanas, pelos intérminos caminhos de Allah.
 
Alguns meses depois, de regresso às terras, novamente se viram forçados a atravessar o mesmo rio, naquele mesmo lugar perigoso e trágico. 
E, como se sentissem fatigados, resolveram repousar algumas horas à sombra acolhedora do lajedo que ostentava bem no alto a honrosa inscrição.
Sentados, pois, na areia clara, puseram-se a conversar.
Eis que, por um motivo fútil, surge, de repente, grave desavença entre os dois companheiros. Discordaram. Discutiram. Nagib, exaltado, num ímpeto de cólera, esbofeteou, brutalmente, o amigo. Que fez Mussa? Que farias tu, em seu lugar? Mussa não revidou a ofensa. Ergueu-se e, tomando, tranqüilo, o seu bastão, escreveu na areia clara, ao pé do negro rochedo:
"Viandante! Neste lugar, durante uma jornada, Nagib, por motivo fútil, injuriou, gravemente, o seu amigo Mussa".

Surpreendido com o estranho proceder, um dos ajudantes de Mussa observou respeitoso:
- Senhor ! Da primeira vez, para exaltar a abnegação de Nagib, mandaste gravar, para sempre, na pedra, o feito heróico. E agora, que ele acaba de ofender-vos, tão gravemente, vós vos limitais a escrever na areia incerta, o ato de covardia! A primeira legenda, ó cheique, ficará para sempre.
Todos os que transitarem por este sítio dela terão notícia. Esta outra, porém, riscada no tapete de areia, antes do cair da tarde, terá desaparecido, como um traço de espumas entre as ondas buliçosas do mar.

Respondeu Mussa:
É que o benefício que recebi de Nagib permanecerá, para sempre, em meu coração. Mas a injúria. . . essa negra injúria... escrevo-a na areia, com um voto, para que, se depressa daqui se apagar e desaparecer, mais depressa, ainda, desapareça e se apague de minha lembrança!
- Assim é, meu amigo! Aprende a gravar, na pedra, os favores que receberes, os benefícios que te fizerem, as palavras de carinho, simpatia e estimulo que ouvires.
Aprende, porém, a escrever, na areia, as injúrias, as ingratidões, as perfídias e as ironias que te ferirem pela estrada agreste da vida.
Aprende a gravar, assim, na pedra; aprende a escrever, assim, na areia... e serás feliz !
(Malba Tahan) 




Até a próxima!
Elaine Cunha

quarta-feira, julho 18

Os Contos de Fadas e a Linguagem na Infância

CAMINHANDO COM Cristiane Takemoto.

Os Contos de Fadas e a Linguagem na Infância

Nas últimas semanas, temos conversado sobre os Contos de Fadas e talvez você já tenha se perguntado como essas histórias podem ajudar os ouvintes, em especial as crianças. Pensando nisso, falaremos hoje de alguns aspectos que podem ser diretamente influenciados pela prática de ouvir e (re)contar histórias: o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem oral.

Falar de linguagem é sempre um desafio devido às multiplas possibilidades de abordagem do tema. Autores consagrados como Jean Piajet, Lev Vygotsky, Mikhail Bakhtin e Steven Pinker pesquisaram o assunto e propuseram teorias que tentam explicar o que é e como funciona a linguagem. Em seus estudos, desenvolveram conceitos que muito contribuiram para o estudo da linguagem, conforme o quadro abaixo.

                         
 Fonte: www.google.com

Se por um lado os cognitivistas defendem a linguagem como instinto desenvolvido a partir da cognição, os interacionistas a entendem como produção sócio-histórica e cultural. Os avanços das neurociências também trazem muitas contribuições para os estudos nesta área, mas ainda assim algumas polêmicas persistem, especialmente as de natureza ideológica. Por isso, ao invés de confrontar posições, tentaremos apreender a essência de cada teoria e fazê-las interagir com situações cotidianas.

A título de ponto de partida, vamos começar refletindo um pouco sobre o que vem a ser o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem oral, analisando inicialmente os termos separadamente para depois entender a que se referem quando juntos. Vamos lá!

O termo processo remete a algo que acontece em continuidade e com uma relação de interdependência entre as atapas. Dizer que algo é contínuo é o mesmo que dizer que não há interrupção e que cada evento está associado ao que ocorreu antes e irá repercutir no que virá depois. A linguagem é assim. Ela se constitui em um processo que inicia antes do nascimento e segue por toda vida.

Já o termo aquisição, quem procurar nos dicionários verá que ele se refere ao efeito de adquirir algo, ou seja, de pegar para si uma ‘coisa’ que já está pronta. No caso da linguagem, estaria relacionado a uma dotação genética inata para o movimento de input/output da língua falada, respeitando-se o processo de maturação das estruturas orgânicas. Ou seja, é o mesmo que dizer que as crianças já nascem programadas com uma espécie de gramática universal e que, com o passar do tempo, ela amadurece e começa a falar de acordo com a  língua da região em que vive. Para os interessados nessa abordagem, é interessante a leitura de  O instinto da linguagem (PINKER, 2004).

Em contrapartida, quando se fala de desenvolvimento, em geral se quer referir o aumento quantitativo e qualitativo das estruturas e processos envolvidos em um determinado contexto. No caso da linguagem, isso remete à sua constituição através construção histórica dos vínculos afetivos e sócioculturais. Nessa perspectiva, o desenvolvimento da linguagem ocorre através do diálogo e da troca de influências entre o sujeito e seu grupo, ou seja, na família, na escola, no trabalho e nos outros lugares onde as pessoas se encontram.

No caso específico da linguagem oral, o desenvolvimento não diz respeito simplesmente ao aumento do número de emissões mas também a evolução da complexidade, tanto no nível de percepção quanto na produção de sons, sílabas, frases e do discurso. A leitura de A formação social da mente (VYGOTSKY, 1991) pode ajudar a compreender melhor esta perspectiva.

Portanto, se à primeira vista as expressões aquisição e desenvolvimento parecem análogas, lembramos que para quem se aprofunda no tema, elas chegam a ser consideradas antagônicas, visto que a primeira presupõe que todos os indivíduo já nascem com um dispositivo para a linguagem e que ela acontecerá a partir de um dado momento, enquanto que a segunda acredita na importância fundamental da mediação do Outro, a ponto de atribuir a este Outro o favorecimento ou a total inviabilização do processo, como mostrado nos filmes  L'Enfant Sauvage (1969) e Nell (1994).



Em se tratando da expressão linguagem oral, algumas pessoas acham que ela se reduz à palavra falada, mas não é bem assim. Choros, gritos, ruídos, gorjeios, balbucios e risadas são manifestações de linguagem oral, já que se utilizam de estruturas relacionadas ao sistema sensório motor oral (boca, laringe e vias respiratórias etc.).  Esses comportamentos fazem parte de um amplo repertório de estratégias de interação entre um sujeito e as pessoas do ambiente em que ele vive.

Essa relação da criança com seus interlocutores tem início antes mesmo do nascimento, visto que, em torno do quarto mês de gestação, em condições normais, o bebê começa a perceber os sons internos e externos ao corpo da mãe e pode reagir a eles. Alguns autores acreditam que conversar com a “barriga” pode estimular a percepção da voz da mãe e/ou de outros familiares, facilitando seu reconhecimento após o nascimento.

Ao nascer, através do choro inaugural, a criança interage diretamente com o universo social a sua volta e em seus primeiros meses de vida, ela passa a emitir sons de acordo com suas sensações e com os estímulos do ambiente. Em casos de desenvolvimento dentro dos padrões considerados normais, por volta do quarto ou quinto mês de nascido, o bebê estará iniciando a fase do balbucio, que funciona como um exercício preparatório para etapas mais elaboradas da comunicação oral.

Em uma sequência crescente de variedade e sofisticação de emissões, por volta dos 12 meses, a criança deverá falar algumas palavras associadas a seu contexto de vida. Aos 24 meses ela deverá juntar palavras e aos 36 meses terá condições de narrar histórias e situações vividas. Para que essas etapas se sucedam, é importante assegurar que a criança  ouça bem, compreenda o que ouve e que ela seja adequadamente estimulada. Assim, ao longo de toda sua vida, o sujeito aprenderá novas maneiras de se expressar.

Além disso, é importante considerar que a infância é atravessada por diversos tipos de linguagem, sendo o uso da expressão linguagem oral, uma referência não apenas aos sons emitidos, mas também a seu papel de aspecto constituinte do sujeito, e, ao mesmo tempo, um traço que distingue o ser humano de toda e qualquer outra espécie viva. Cientes destas posições, vamos observá-la sem contudo estabelecer comparações com outros tipos de linguagem.

A essa altura, você deve está achando que já leu muito mas ainda não viu nada que relacione, de fato, as tais narrativas de Contos de Fadas ao processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem oral. Engano! A relação entre essas duas instâncias é tão próxima que por vezes elas podem se confundir. Entenda que, ao perceber os sons do mundo, a criança gradativamente aprende a identificar a voz do leitor/contador, tomando-a como modelo de linguagem oral. Assim, quando as crianças escutam Contos de Fadas, tais histórias podem se tornar um importante estímulo para o desenvolvimento de sua linguagem.

Neste sentido, entre os muitos aspectos importantes para o desenvolvimento da linguagem oral, a temporalidade tem papel significativo quando a criança começa a falar, visto que, nesta fase, ela se limita situações imediatas e ao uso de verbos no presente. Naturalmente, ao ouvir os contos, a criança vai sendo conduzida a diferentes tempos de conjugação verbal visto que o passado e o futuro lhes são apresentados através do uso das expressões de abertura e de encerramento. Assim, o “Era uma vez...” descortina para a criança um tempo passado e o “...felizes para sempre!” indica a possibilidade de um tempo futuro.
                                                                               

Outros aspectos da linguagem, como o léxico e o semântico também são contemplados por essas narrativas. Ao ouvir as histórias, as crianças aprendem um grande número de substantivos e adjetivos, ampliando seu vocabulário e, conforme observado por Takemoto (2005), ao recontar as histórias, as crianças exibem expressões faciais que transmitem surpresa, medo, tristeza, rancor e felicidade, demonstrando que percebem o conteúdo semântico das palavras.

No caso específico dos Contos de Fadas, algumas características deste gênero literário por si só, contribuem para que a linguagem da criança se torne mais elaborada e diversificada. Seu tipo de linguagem oferece a criança diferentes formas de uso da língua, trás de volta e expressões que já não são usadas atualmente e criam neologismos (novas palavras). Sem eles, dificilmente uma criança moderna saberia o significa “picar o dedo em uma roca” ou conheceria pronomes de tratamento como “Vossa Alteza” ou usaria palavras como “Abracadabra”.
                                                                                                             

Assim, com base em pesquisas científicas, podemos acreditar que, seja a linguagem oral entendida como habilidade inata ou como uma construção sociohistórico e cultural, os momentos de interação através da leitura/contação das narrativas podem oferecer preciosos estímulos ao desenvolvimento da linguagem na infância. E essa é apenas uma parte da contribuição dos Contos de Fadas ao desenvolvimento do sujeito, visto que eles atuam também na construção da estabilidade emocional, do desenvolvimento moral e até na aprendizagem da leitura/escrita. Mas isso já é assunto para outras conversas!

Feliz de ter estado aqui mais uma vez, desejo bons dias a todos e...
Até a próxima!! 




Cristiane Takemoto 
Fonoaudióloga, Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional, com formação em Psicanálise Clínica e Mestrado em Linguística. 



Referências:

LIMA, Lauro de O. Piaget Para Principiantes. 2. Ed. São Paulo: Summus, 1980.
PINKER, Steven.  O instinto da linguagem.  São Paulo: Martins Fontes, 2004.
VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
TAKEMOTO, Cristiane de M. L. O discurso narrativo oral: um estudo do papel do reconto. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco, 2005. E-book disponível em http://letrasdigitaisufpe.blogspot.com.br/


Filmes:
APTED, Michael.  Nell.   Estados Unidos, 1994.
TRUFFAUT, François.    L'enfant sauvage.   França, 1970.

segunda-feira, julho 16

Conversando com... Paula Negrão

Hoje trago mais uma novidade no Caminhando e Contando. 
Desde que ingressei neste universo da arte de contar histórias, conheci pessoas agregadoras. E para estrear a nova coluna, convidei uma pessoa super bacana para uma conversa lá na cozinha. Um bate-papo informal. Confere aí!

CONVERSANDO COM... Paula Negrão

Você conhece a Contadora de Histórias Paula Negrão? Eu a conheci  em uma palestra do Viva no ano de 2010. Eu até escrevi aqui sobre a oficina. A Paula é graduada em Letras pela Universidade Paulista – UNIP. Desde 2002 trabalha voluntariamente como Contadora de Histórias na Associação Viva e Deixe Viver. Há cinco anos atua profissionalmente em empresas, associações, escolas, oferecendo histórias para todos os públicos de crianças da primeira infância, adultos até a melhor idade. Eu nem preciso te contar que fiquei  encantada com o seu jeitinho super meigo de narrar, ao é? Assim, não perdi tempo e convidei-a para nossa estrear a nossa coluna. Espero que goste!


Caminhando - Por que você quis ser contadora de histórias?
Paula Negrão -  A  verdade que eu não tinha intenção de  ser uma contadora de história. O meu objetivo era realizar trabalho voluntário com crianças.
Nessa época,  eu tive a oportunidade de conhecer o trabalho do Viva e fiquei  encantada com a estrutura organizacional da Associação e a partir daí conheci a personagem Contador de Histórias.

Caminhando - Você ouvia histórias quando criança? Quem contava para você?
Paula Negrão - A minha  mãe não tinha muito tempo para  contar histórias  todas os  dias. Naquela época a vida  era mais difícil :   quatro filhos, trabalhando fora  e dona de casa e não sobrava tempo nem para piscar olho. Tem uma  memória  afetiva :  eu me  lembro quando ganhei o  livro  O Gato de Botas e vivia com esse  livro para cima e para baixo. 
 
Caminhando - Como você escolhe seu repertório?
Paula Negrão -  Eu falo que as histórias  que  me escolhem  ....
É um processo bem interessante porque sinto uma emoção gostosa quando estou lendo a história e quando isso acontece é sinal que  ela  está dizendo assim :
-  Você vai me escolher para contar.
Eu também  me identifico com os escritores da Literatura  Infantil  Brasileira:
Ana Maria Machado Ruth Rocha, Eva Funari, Sylvia  Orthof, Giba Pedrosa, Illan Brenman, Andre Neves, Ziraldo entre outros e não posso esquecer de mencionar o Pai da Literatura Infantil  Monteiro Lobato.  

Caminhando - Para você, qual a importância da leitura no desenvolvimento da criança?
Paula Negrão - “ Ler  para  uma  criança muda  a sua  história.”
A criança  quando ouve ou lê uma história  desenvolve  o  foco, atenção, concentração, imaginação e a criança  começa a gostar de ler  histórias pela história.
O momento de leitura  nas escolas  ainda está atrelado com alguma atividade pedagógica  como  ficha de leitura.
Eu  me lembro  que na infância essa atividade  era constante e isso criou um mecanismo ruim e perdi gosto da leitura , isto é não tinha prazer , tornando uma atividade “chata”.

Caminhando - Se pudesse definir em uma frase o momento em que você está  narrando, que frase seria esta?
Paula Negrão - A minha maior  felicidade é contar histórias.  Parece  o comercial  do Credicard  :  isso não tem preço.

Caminhando - Alguma dica? Alguma indicação de leitura?
Paula Negrão-  O  caminho  da Arte  de Contar  não tem fim :  estudar , estudar e estudar.
Apesar de 10 anos  de  trabalho voluntário e  cinco anos   profissional, me sinto uma aprendiz.
Eu estou sempre buscando cursos de atualização e  formação , recentemente conclui o curso na Biblioteca Hans  Christian Andersen.

Dica de Livro
Para mim, é o livro de cabeceira do Contador de Histórias. Indico "ACORDAIS: Fundamentos teórico-poéticos da arte de contar histórias" da Regina Machado.



E aí, gostou da nossa conversa? Para conhecer mais do trabalho da Paula, acessa o site "Contos e Encantos por Paula Negrão". Você irá gostar!


E que tal ouvir suas belas histórias? Acessa aqui e veja a agenda de férias!

Até a próxima!
Elaine Cunha

sexta-feira, julho 13

Você não tem nada do tamanho GG aí no estoque?

Você não tem nada do tamanho GG aí no estoque?

Minha amiga trabalha em um brechó de um hospital, como voluntária.
Certo dia adentrou na loja uma certa senhora bastante obesa, e de cara a minha amiga pensou que não tinha nada na loja na numeração dela. Se sentiu apreensiva e constrangida naquela situação, vendo a senhora percorrer as araras em busca de algo que minha amiga sabia que ela não encontraria.
Ficou angustiada, porque não queria que a senhora se sentisse mal pelo tamanho das peças de roupas, se sentindo excluída e fazendo a questão sobre o seu sobrepeso vir à tona de forma implícita.

Naquele momento minha amiga orou a Deus e pediu que lhe desse sabedoria para conduzir a situação evitando que a cliente se sentisse excluída ou humilhada na sua autoestima.

Foi quando o esperado aconteceu. A senhora se dirigiu à minha amiga e disse tristinha:
“É.. não tem nada grande, não é?
E a minha amiga, sem até aquele momento saber o que diria, simplesmente abriu os braços de uma ponta a outra e lhe respondeu:
“Quem disse? Claro que tem! Olha só o tamanho desse abraço! - E a abraçou com muito carinho.

A senhora então se entregou àquele abraço acolhedor e deixou-se tomar pelas lágrimas exclamando:
“Há quanto tempo que ninguém me dava um abraço.”

E chorando, tal qual uma criança a procura de um colo, lhe disse:
“Não encontrei o que vim buscar, mas encontrei muito mais do que procurava".

E naquele momento, através dos braços calorosos de minha amiga, Deus afagou a alma daquela criatura, tão carente de amor e de carinho.

Quantas almas não se encontram também tão necessitadas de um simples abraço, de uma palavra de carinho, de um gesto de amor.

Será que dentro de nós, se procurarmos no nosso baú, lá nas prateleiras da nossa alma, no estoque do nosso coração, também não acharemos algo “grande” que sirva para alguém?



"Sou um só, mas ainda assim sou um. 
Não posso fazer tudo, mas posso fazer alguma coisa. 
Por não poder fazer tudo, não me recusarei a fazer o pouco que posso". 
Edward Everett



Um abraço de urso para você!
E também uma bela história para ouvir e acalentar o coração!

Até a próxima!
Elaine Cunha

quarta-feira, julho 11

A História da Infância e dos Contos - parte 2


A História da Infância e dos Contos
Segunda Parte

Com os contos, já viajamos por tempos primitivos, entre civilizações do oriente médio e pelas cidadelas medievais, observando a relação entre a infância e as narrativas de tradição oral. Seguindo o curso da história, passaremos ao espaço de tempo entre os anos de 500 a 1a.C., época em que a civilização greco-romana existiu.

Inicialmente, a criança grega era educada por seus familiares no ambiente doméstico. Depois disso, pedagogos eram nomeados para conduzir sua educação, orientando-a de acordo com a classe social. Em geral, elas aprendiam determinados hábitos e ofícios, a iniciação musical era estimulada e a oratória era imprescindível para a classe dominante visto que já naquela época, o discurso era usado com o objetivo de manipulação das camadas populares.

Na Grécia Antiga, a educação mudava de acordo com o sexo da criança: as meninas aprendiam a fazer trabalhos domésticos, participavam de alguns rituais e permaneciam na casa dos pais até o casamento, quando passavam a viver tal qual as “Mulheres de Atenas”, da música de Chico Buarque. 

 

Na sociedade que criou as olimpíadas, os esportes eram ensinados aos meninos tanto com finalidades estéticas e quanto como preparação para guerras. Aos três anos eles bebiam vinho para celebrar o final da infância e aos sete iniciava o treinamento nas casernas. Os meninos de linhagens nobres eram enviados aos grandes pensadores e filósofos para aprender matemática, oratória, lógica, artes e, principalmente a conhecer a si mesmo e desenvolver habilidades para liderar o povo.

No que se refere às narrativas, a Grécia Antiga é notória por dois estilos distintos: a Mitologia Grega e as Fábulas. A Mitologia Grega tenta entender e explicar a criação do mundo e de tudo que nele existe. Politeísta, ela atribui a cada um de seus deuses a responsabilidade por um aspecto da vida. Com suas formas e sentimentos humanos, os deuses gregos governavam o mundo do alto do Monte Olimpo. De lá, Zeus, Atena, Apolo, Afrodite e outros usavam as forças da natureza para promover intrigas e aterrorizar a humanidade.


As fábulas por sua vez, são histórias curtas onde os animais ostentam características humanas. De acordo com Nelly Novaes Coelho (1997), as fábulas são contos tidos como admonitórios, que narram situações vividas por animais, seres inanimados e trans-reais, com o objetivo de transmitir preceitos da moralidade. Seus personagens representam as relações entre os indivíduos e suas atitudes em situações da vida real.

Esopo é uma figura lendária. Segundo consta, foi um escravo contador de histórias, possivelmente corcunda e disfluente (gago), que ficou conhecido pela autoria de fábulas muito populares até os dias atuais. Entre suas fábulas mais famosas, estão A Cigarra e as Formigas, A Lebre e a Tartaruga, O Leão e o Ratinho e A Raposa e as Uvas. Para conhecer sua obra, leia As Fábulas de Esopo (2011).


Com a decadência do poder dos gregos, o Império Romano tornou-se muito forte, conquistou muitas terras e dominou a Europa. A força romana se estendeu por quase todo o continente e alcançou outras regiões em torno do Mar Mediterrâneo, devastando sociedades e impondo-se como única possibilidade cultural, conforme comentado em nosso primeiro “encontro”.

Segundo os autores consultados, não havia no vocabulário romano uma palavra específica para designar a família, visto que esta podia ser nuclear (pai, mãe e filhos), ampliada (acrescida de familiares de outras gerações como tios e avós) ou múltipla (quando um contrato reunia sob o mesmo teto diferentes famílias).

Como os divórcios frequentes, as crianças eram entregues sob a responsabilidade do pai que muitas vezes delegava sua educação a amas e escravos. Como eram comuns relações de concubinato, as crianças nascidas dessas uniões eram consideradas bastardas e embora vivessem na casa do pai, não tinham direito à ascensão social.


Em relação aos contos, a Mitologia Romana era similar à grega. De maneira geral, diferem apenas no nome dos Deuses e na maneira de conduzir os rituais, ambos politeístas. Conforme o império avançava e as derrotas aconteciam, diminuía a crença dos romanos em que seus Deuses lhes assegurariam vitórias eternas. Para entender as narrativas dessa época, uma boa leitura é Histórias Greco-Romanas, de Ana Maria Machado (2011).

Com o Império Romano, o Cristianismo se expandiu e passou a dominar a Europa. Veio a era das Cruzadas e de outros tipos de perseguição que fizeram da Idade Média o tempo do obscurantismo. Privado de educação formal, o povo empobreceu e se refugiou na cultura popular.

Desta maneira, as narrativas se tornaram muito comuns e inverteram o caminho, indo das cozinhas e salas de fiar para os salões dos palácios. Sem acesso à escrita e oprimidos pelo poder da igreja, que perseguia, julgava e condenava todas as manifestação que não compreendia ou não concordava, a oralidade possibilitou a transmissão de conhecimentos e tradições, tornando-se uma preciosa forma de preservação da memória coletiva e de lazer.

Naquele tempo, tanto as crianças nobres quanto as plebeias, eram tratadas como se fossem miniaturas de adultos. Não havia nenhuma atenção ou cuidado especial e com frequência os bebês eram separados de seus pais para não atrapalhar suas atividades sociais e recreativas. Possivelmente devido a esse descaso, ao atraso da medicina e às precárias condições de higiene, a mortalidade infantil era altíssima.



Foram essas condições extremas que impulsionaram as tradições de narrativas orais e em especial os Contos de Fadas. Nem as tentativas de moralização e adequação das narrativas à moral cristã diminuiu seu valor como elemento catártico e como produção cultural. Ao contrário, trabalhos como os realizados pelos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm ajudaram a difundir a cultura daquela época entre crianças de todas as idades e de todos os tempos. A publicação ‘Histórias das Crianças e do Lar’ é considerada o primeiro livro direcionado ao público infantil e foi através dela os contos populares tornaram-se menos divergentes dos princípios pregados pelo cristianismo e passaram a ser vistos como literatura infantil.

De acordo com Phillipe Ariès, o francês autor de História Social da Infância e da Família, no final do século XIV a infância passou a ser diferenciada da idade adulta e a receber cuidados específicos. Só a partir daí, a educação infantil tornou-se mais valorizada e estimulada, fazendo com que o costume de contar histórias passasse a ser uma prática de estimulação ao desenvolvimento da criança.

Em tempos mais recentes, a infância vem ocupando um espaço cada vez maior na sociedade. Na área da saúde, foram desenvolvidas vacinas, medicamentos e procedimentos para prevenir doenças e preservar a vida das crianças. A educação tem se baseado em estudos científicos e busca orientar o desenvolvimento máximo das habilidades naturais das crianças e a construção de novas competências.  Até a indústria tem se ocupado cada vez mais com a criação de brinquedos e produtos diversos, voltados para este público.

 
Fontes:   http://www.google.com

Atualmente a infância tem até uma data comemorativa. Segundo informações colhidas, no dia 12 de outubro passou-se a comemorar o Dia da Criança no Brasil, a partir de um decreto assinado pelo presidente Arthur Bernardes em novembro de 1924. Por outro lado, a Declaração Universal dos Direitos das Crianças só foi aprovada pela UNICEF em novembro de 1959. De certa forma, essas iniciativas refletem a valorização da infância na contemporaneidade e contribuem para que os contos ganhem novas atualizações e permaneçam como importante recurso mediador do desenvolvimento infantil.

Assim, as histórias que antes eram contadas pelos familiares mais velhos, hoje são oferecidas também em livros, filmes, apresentações de teatro, programas de TV e jogos virtuais. Os personagens tradicionais saíram do imaginário, tomaram forma e estão estampados em uma infinidade de produtos. A cada momento surgem novas edições dos antigos contos e histórias que invertem posições clássicas dos personagens e exercitam a criatividade e a criticidade. Isso aquece a economia, movimentando a produção e o consumo de produtos em forma de filmes, brinquedos, roupas e até parques de diversões. 



 

E o mais incrível é pensar que tudo isso acontece porque, como diz Joana Cavalcanti (2002), “desde sempre o homem narrou” e a força das narrativas permeia as relações socioculturais, renovando-as a cada dia.

Ao redor de fogueiras primitivas, nos desertos do oriente, em vilarejos medievais ou em salas de cinema, com ou sem a figura das fadas, a tradição oral nos lembra de que contar e escutar histórias são habilidades humanas e que em qualquer fase da vida, os contos ensinam que é preciso lutar para vencer as adversidades e conquistar dias mais felizes.

Como isso acontece? Como essas histórias participam do desenvolvimento da das crianças? É sobre isso que vamos conversar na próxima semana! 

Até lá, pessoal!





Cristiane Takemoto 
Fonoaudióloga, Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional, com formação em Psicanálise Clínica e Mestrado em Linguística. 







REFERÊNCIAS:


ANNAUD, Jean-Jacques. La Guerre du Feu (A Guerra do Fogo). Canadá, 1981.
ARIÈS, Phillipe. História Social da Criança e da família.  Rio de Janeiro: Guanabara, 1978. 

ARRUDA, José Jobson (História Geral) e AQUINO, Rubem (História e Sociedade), disponível em http://www.culturabrasil.org/revolucaoneolitica.htm  acesso em 07/06/12, 10:35hs
CAVALCANTI, Joana.  Caminhos da Literatura Infantil e Juvenil, Editora Paulus, 2004.
COELHO, Nelly N. Literatura infantil – Teoria, análise, didática.  São Paulo: Editora Ática: 1997
ESOPO.   As fábulas de Esopo. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2011.
JACQ, Christian.  Ramsés – O filho da luz.  Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil,  2004.
MACHADO, Ana Maria.   Histórias Greco-Romanas.  São Paulo: Editora FTD: 2011.
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