CAMINHANDO
COM
Cristiane
Takemoto.
A História da Infância e dos Contos
Primeira Parte
Os homens primitivos, também
chamados de pré-históricos, eram originariamente nômades, o que significa que
viviam em um território enquanto encontravam suprimentos. Quando a caça e a
coleta de frutos se tornavam escassas, eles se deslocavam para uma região onde
houvesse abundância. Dessa maneira, foram se espalhando por diferentes
continentes e povoando o mundo.
Dados arqueológicos indicam
o modo de vida da sociedade primitiva e de como era composta por pequenos
grupos, em geral com certo grau de parentesco. Nela, homens, mulheres e
crianças tinha papeis semelhantes: caçavam, colhiam frutos e cuidavam do lugar
onde moravam para evitar que outros grupos invadissem seu espaço. Entretanto,
devido aos constantes deslocamentos e a falta de registro, pouco se tem para
comprovar as hipóteses acerca da vida nessa época. Apenas algumas pinturas
rupestres sugerem como viviam adultos e crianças pré-históricas.
Nas
comunidades primitivas, provavelmente a educação acontecia de forma espontânea.
Os antropólogos que se dedicam a este tema, dizem que não havia um integrante
da comunidade primitiva que se ocupasse especificamente da educação das crianças.
Ao contrário, todo o grupo era responsável pela educação das crianças que
aprendiam através da imitação, da observação das cerimônias e da prática de
pequenos trabalhos supervisionados pelos mais velhos.
Uma grande mudança no
comportamento desses grupos aconteceu quando os homens pré-históricos
perceberam que das sementes caídas no solo brotava uma nova planta, semelhante
aquela de onde haviam colhido o fruto. A partir daí, teve início a agricultura
e essa prática possibilitou a fixação do grupo em uma determinada região.
Semear a terra possibilitou a armazenagem de mantimentos para as épocas de frio
e de seca e com isso, os grupos ficaram maiores e mais fortes, atribuindo a
partir de então, um grande valor a terra e ao habitat.
De acordo com os
historiadores, o terreno usado para o plantio ficava próximo ao local onde o
grupo habitava e as crianças eram usadas como força de trabalho semelhante aos
adultos. Ao se referir a este estágio de desenvolvimento da humanidade, Lev
Vygotsky (1999) diz
que foi nesta época que o homem passou a desenvolver a linguagem articulada,
usando-a como instrumento para as interações sociais e para a organização do
trabalho.
Esta nova dinâmica operou
uma verdadeira revolução visto que além de plantar, colher e armazenar os
alimentos, os grupos passaram a observar o sol, a cultuar os fenômenos da
natureza e a enterrar os mortos. Outro aspecto marcante foi que as disputas por
solos férteis passaram a ser mais frequentes, fazendo com que as guerras se tornassem
parte dessa nova realidade.
Em 1981, o filme intitulado A Guerra do Fogo, dirigido por Jean-Jacques Annaud
levou para as telas de cinema a batalha entre dois grupos hominídeos que disputavam
entre si a posse do fogo e ao entrarem em contato com uma tribo mais evoluída,
percebem que além de fazer o fogo eles tinham hábitos e linguagens diferentes.
Ganhador do 55º Oscar, o referido filme mostra cenas dos homens
primitivos reunidos em torno do fogo, emitindo sons guturais e gesticulando.
Tal visão poderia ter inspirado Joana Cavalcanti a escrever que desde tempos
primitivos, homens mulheres e crianças se reuniam em volta do fogo para contar
e escutar histórias. As ilustrações abaixo são de algumas cenas do filme e
mostram os grupos ao ar livre e no interior das cavernas.
Em diversas regiões do
planeta, existem cavernas como as de Lascaux,
Altamira e até aqui no Brasil, onde a
FUMDHAM (Fundação Museu do Homem Americano) indica a existência de “260 sítios
arqueológicos com pinturas rupestres”, segundo o site Wikipédia. Em cada uma
dessas cavernas, é possível observar registros deixados pelos grupos que as habitaram.
Em suas paredes, pinturas rupestres exibem famílias, animais e algumas
atividades cotidianas como caçadas e confrontos.
Tais gravuras retratam o
modo de vida nesse período e mostram as crianças como integrantes
indiferenciados dos grupos. Os historiadores especulam que a educação das
crianças acontecia de maneira espontânea e que os indícios levam a crer que não
havia castigos ou punições. Embora estas informações sejam consideradas
confiáveis, deve-se considerar que o termo pré-história se refere a um período
em que ainda não existia um sistema de escrita formal e as conclusões são
tiradas a partir da análise dos lugares e de pequenos fragmentos de objetos
encontrados.
Nas
imagens encontradas, pequenas figuras humanas levam a crer que as crianças estavam
sempre por perto. Sendo o mais dependente filhote ao nascer, elas sempre
precisaram de cuidados e da companhia dos mais velhos para aprender e se
desenvolver. Embora muitas coisas tenham mudado daquela época para cá, essa
realidade permanece intocada. As imagens abaixo reproduzem este cenário.
Não muito diferentes dos
grupos neolíticos, ainda hoje existem povos que mantém sua cultura apartada da
sociedade globalizada. São tribos africanas, aborígenes australianos, e
indígenas sul-americanos. Em cada uma dessas etnias, as crianças continuam como
integrantes que colaboram com os trabalhos e vivem sob a responsabilidade de
toda a comunidade.
Fonte: http://wwwgoogle.com
Como em grupos
pré-históricos, nas tribos da atualidade as crianças aprendem através da
observação dos costumes, da celebração dos cultos e da transmissão dos valores
primordiais. Sentados em círculo, elas escutam e contam histórias de seus
antepassados. Lendas, episódios cotidianos e ensinamentos são partilhados de
maneira informal, durante as atividades, brincadeiras e na transmissão oral da
cultura de cada povo.
No caminho da evolução
humana, a vida social foi se tornando mais elaborada e os registros deixados
pela sociedade egípcia indicam que as crianças eram tratadas com muito carinho
e cuidado porque essa civilização já entendia que as crianças seriam a
continuidade da sociedade, fazendo delas responsáveis pela preservação das
crenças e dos rituais. Descoberto
em 1827, o King’s Valley oferece
provas de como os egípcios tratavam seus descendentes. Mais recentemente, em
1989, foi encontrada a sala KV5, e nela, as 50 múmias dos filhos do faraó
Ramsés II.
Na obra Ramsés - O filho da luz, Christian
Jacq (1995) descreve a organização social e a educação no Egito Antigo.
Baseado em estudos de egiptólogos famosos, entre outras coisas, o autor escreve
sobre como as crianças eram conduzidas ao ofício de seus familiares e treinadas
para o futuro. O próprio Ramsés II, foi
nomeado comandante-chefe dos exércitos do seu pai, o Rei Sethi I, aos 10 anos de idade e aos 14 anos
participou de confrontos ao lado de seu pai.
Ramsés
II reinou de
1301 a.C. a 1235 a.C. e a escrita cuneiforme encontrada em monumentos e
em papiros fornece informações consistentes sobre aquela época. Há registro do
uso de técnicas de ensino baseadas na memorização e no uso de castigos e
punições. Outro aspecto muito valorizado
nesse período era a harmonia familiar. Algumas esculturas mostram os filhos
entre os pais.
Assim
como em todo o Oriente Médio, na sociedade egípcia antiga, a educação variava
de acordo com a classe social e em cada classe social, os
filhos eram encaminhados para seguir o ofício dos pais. A educação se baseava em três eixos principais: aprender
a falar, aprender o código moral e aprender a obedecer. Entre os nobres, a
educação física também era importante e posteriormente passou a ser considerada
uma forma de preparação para a guerra.
Em relação aos contos, aparecem na cultura
egípcia os antigos contos das Mil e uma noites, de origem árabe, onde a jovem Xerazade, escapa de um trágico destino
distraindo seu algoz com histórias fantásticas. Entre as narrativas mais
famosas até os dias atuais estão Simbad o Marujo, Aladim
e a Lâmpada Maravilhosa e
Ali
Babá e os Quarenta Ladrões.
Populares em diferentes
regiões do Oriente Médio, os Contos Maravilhosos eram histórias cuja temática
se voltava para os problemas materiais e de ascensão social. Contando essas
histórias, crianças e adultos pobres realizavam seus sonhos com riqueza e
opulência. Eram narrativas tão marcantes que se espalharam pela Europa e ganharam
o mundo.
No nosso próximo encontro
falaremos mais sobre a infância e as narrativas orais em diferentes sociedades!
Até lá!!
REFERÊNCIAS:
ANNAUD, Jean-Jacques. A Guerra do Fogo. Aventura: França e Canada, 1981.
CAVALCANTI,
Joana. Caminhos da literatura infantil e juvenil. São Paulo: Paulus Editora, 2002.
JACQ,
Christian. Ramsés - O filho da luz.
Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1998.
VYGOTSKY,
Lev S. A Formação Social da
Mente. São Paulo, Martins Fontes,
1999.
__________
. Pensamento e Linguagem. São Paulo, Martins Editora, 2008.
Cristiane Takemoto
Fonoaudióloga, Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional, com formação em
Psicanálise Clínica e Mestrado em Linguística.
Estou aguardando o próximo post!
ResponderExcluirGostei muito do texto!
Sabia que até hoje eu me impressiono com certas coisas? Por exemplo: como podem as histórias das mil e uma noites sobreviverem por tanto tempo? Como uma tribo consegue ser autossuficiente, respeitar a natureza e cuidar da educação das crianças e de todos da tribo de uma forma tão espetacular? E nós que vivemos numa sociedade (muito maior) não sabemos fazer nada direito? Como é também que os antropólogos vão tão a fundo na descoberta de culturas tão antigas?
É, o conhecimento é realmente irresistível!
Muito interessante e bem trazido .Adorei e estaremos aqui na próxima, pra continuar! beijos,chica
ResponderExcluirQue bom que você gostou, Chica!
ExcluirTambém estou adorando poder conversar sobre os contos e interagir com vocês!
Encontro marcado então!
Bjs
Pois é Misael, a arqueologia e a antropologia trazem preciosas contribuições para que possamos entender melhor como funcionava a sociedade em tempos muito antigos. É realmente fantástico poder vislumbrar cenários que quase se perdem no tempo.
ResponderExcluirE o mais interessante é como os avanços das ciências e as novas tecnologias são determinantes para desvendar esses mistérios!
Até a próxima!