quarta-feira, agosto 29

Fazendo peraltagens com as palavras

Sabe quem estará na querida Biblioteca Hans Christian Andersen no próximo sábado? O Ilan Brenman! Professor, escritor, psicólogo, consultor e contador de histórias. Sou fã de carteirinha!



Será uma conversa cujo objetivo é oferecer ferramentas para a realização da prática de ler e contar histórias. Tudo para ampliar repertório do mundo literário oral e escrito.  Oferecendo, assim,  ferramentas para compreensão dos fenômenos psíquicos, cognitivos e afetivos relacionados com a literatura oral e escrita. Tudo de bom, não é?

Agende-se! 

Quando? Sábado, 1º de setembro
Horário?  10h às 14h
Onde? Av. Celso Garcia, 4142 -Tatuapé - São Paulo-SP

As inscrições estão abertas! Só precisa ligar no  (11)2295-3447 e se inscrever!

Se eu fosse você, não perderia esta dica! 


Até a próxima!
Elaine Cunha

Saiu o Resultado!

É hoje! 
Como é bom fazer aniversário e melhor ainda presentear os amigos do Caminhando que estão sempre por aqui. 

Agradeço a todos que se inscreveram nos sorteios. Como sempre faço, utilizei o Randon.org para a realização do sorteio. O números foram de acordo com as inscrições conforme ordem nos comentários. 

Então, vamos conhecer as ganhadoras do sorteio de aniversário do segundo ano do Caminhando e Contando?

A sortuda do livro "Os Três Porquinhos Malcriados e o Lobo Bom" foi Marlene Casagrande!



Os sortudos do livro "Contos Tradicionais do Brasil para Jovens" foram Arlete e Ivan!
 

A sortuda do livro "Filó e Marieta" foi Ká Vieira!

A sortuda do livro "A Galinha que sabia nadar" foi Erika Veneziani!

Parabéns aos ganhadores! Agora é com vocês, pessoal! 
Aguardo o email com o endereço completo de cada ganhador. Enviem, por favor,  para contato@caminhandocontando.com. Se eu não receber os dados até o dia 1 de setembro. Caso não receba, farei novo sorteio entre os inscritos, ok?


Até a próxima!
Elaine Cunha

segunda-feira, agosto 27

Juntos por um sonho!

Recebi um pedido super especial da amiga Aline Caldas do blog Semear-te. Ela me contou uma bela história de luta, de desafios, de sonhos. Fiquei emocionada e resolvi contar com a ajuda de vocês também. Eu já fiz o meu pedido ao Aldo para ver a listagem dos livros e ajudar a Giselle. 

Vamos lá, amigos do Caminhando! Conto com sua ajuda nesta Corrente do Bem!

Logo abaixo, o texto na íntegra da Aline Caldas!


Juntos por um sonho!

Amigos e amigas,
  Tenho um amigo, Aldo Cordeiro, cearense querido que mora no RJ. Gente do bem e de um coração enorme, um dia, anos atrás, enxergou um jovem que vendia livros usados numa calçada perto da casa dele.


  O que ele fez? Comprou um montão de livros e ofereceu pros amigos, pra ajudar o tal rapaz a comprar uma casa. Em seis meses, conseguiu a grana e o rapaz saiu do barraco onde morava com a família. Fiz parte e vibrei muito com esta história.


  No final do mutirão, meu amigo Aldo tinha mais livros do que no início. Daí pra continuar sendo "livreiro" foi só manter a organização e conexão com o mundo de leitores-compradores.


  Ele, permanentemente, compra livros de uma instituição, a CELPI, que ajuda a comunidade Santa Marta, no bairro de Botafogo (RJ). Vários projetos são mantidos com a venda de livros.

  Agora, ele está empenhado em outra história. A sobrinha dele, Giselle Kian, que mora em Juazeiro do Norte-Ceará, foi convocada para participar da Seleção Brasileira de Kung Fu. Eles vão à China em novembro, participar de um campeonato internacional. Acontece que são os atletas que bancam tudo. Coisas do Brasil. A família e os amigos estão inventando formas de arranjar dinheiro. 



  Aldo entrou neste sonho com a venda dos livros. O lucro do que ele vender até o final de outubro vai pra ela.


  Ele tem 3.000 livros cadastrados numa planilha, dividida por gêneros, com preços a partir de R$ 2,00 (mais o frete). Se você quiser estar junto, é simples. Basta enviar um e-mail para ele que encaminhará a listagem por e-mail para você escolher da forma que preferir:  geral, por autor, por gênero, editora, preço...  

E-mail do Aldo: aacorde@gmail.com

  Vamos ajudar? Conto com o amor de vocês. 

 Não vai ter como botar o nome de todo mundo numa bandeira, mas dá pra ficar o resto da vida agradecendo e sentindo o doce gosto da solidariedade.




 A sorte está lançada e que Giselle Kian possa representar o nosso país ajudada por nós brasileiros que não desistimos nunca!


 Luz e paz para todos!  Desde já o meu muito obrigada :) 


 Abraço fraterno,

Aline



Abaixo seguem links de reportagens com  Giselle:

Até a próxima!
Elaine Cunha

sexta-feira, agosto 24

Hadithi Njoo - Festival Internacional de AfroContação de Histórias

Tem algo programado para hoje, amanhã e sábado?

Que tal um Festival difrente?

O Ilú Obá de Min Educação, Cultura e Arte Negra / Ponto de Cultura Ilú Ònà Caminhos do Tambor e o Projeto OFICINATIVA realizará nos dias 24, 25 e 26 de agosto de 2012 a primeira edição do Hadithi Njoo, Festival de AfroContação de Histórias.  



Além de exposições, debates, vivências... terão histórias! E alguns amigos lá estarão, como a Lili Flor, Edmilson Ávila e a Débora Kikuti. 

Para acessar o blog do festival, clica aqui

Fica o convite!

Até a próxima!
Elaine Cunha

quarta-feira, agosto 22

Lá vem o "Boca do Céu"




Conhece o "Boca do Céu"?  É  o "Encontro Internacional de Contadores de Histórias" que acontecerá aqui em Sampa de 10 a 16 de Setembro. 


Confesso que nunca participei, visto que este festival ocorre a cada dois anos. E no ano de 2010, eu perdi! E este ano, também não irei. Mas é por um bom motivo, não é? Estou já com 28 semanas da gravidez do Pedro e estou muito cansada. Não estou conseguindo me locomover com tanta facilidade. ;) 

Mas para quem está por aqui em Sampa, é só se programar. Garanto uma coisa a você: você irá se surpreender pela variedade de oficinas, encontros, pessoas e o melhor, muitas novas histórias virão!

Vamos fazer um trato? Um acordo? Você vai e depois você me conta como foi? Só me escrever no contato@caminhandocontando.com

Fico esperando você!

Ah, as inscrições terminam agora no dia 25 de agosto. Então corre! Veja a programação aqui

Até a próxima!
Elaine Cunha

quarta-feira, agosto 15

Contos de Fadas Contribuem ou não?


CAMINHANDO COM Cristiane Takemoto
 
Afinal, os Contos de Fadas Contribuem ou não para o Desenvolvimento das Crianças?



Olá pessoal! Estamos aqui para mais uma conversa sobre as narrativas orais.
Em nosso primeiro encontro aqui no Caminhando e Contando, comentei que desde sempre sou apaixonada por Contos de Fadas e por tudo que se relaciona ao tema. Tal interesse me leva a incursões por diferentes fontes de informação. Livros que abordam o assunto cientificamente e produções acadêmicas como teses e dissertações são a base de minhas pesquisas todavia procuro manter a ‘cabeça aberta’ e me interesso pelas mais distintas referências.
Nesses tempos de pós-modernidade líquida*, onde tudo é fluido e rápido, o espaço virtual tem se configurado em terreno fértil não apenas para divulgação de material de trabalhos como também de interação entre diferentes pontos de vista e construção de possíveis parcerias. Ou não.
Neste amplo universo de investigação, nada deve ser excluído, pois ainda que haja divergência, se ampliam as possibilidades de aprendizagem. Foi assim que, em um recente tour por blogs que tratam do assunto, encontrei a curiosa entrevista que trago hoje. Acho que ela pode nos ajudar a refletir sobre nossa postura frente às tradicionais narrativas orais, contribuindo para a construção de uma visão crítica sobre a literatura maravilhosa e de um posicionamento bem fundamentado.

A referida entrevista foi publicada em 29/06/2010 na webpage da Folha de São Paulo e também pode ser encontrada aqui no endereço  e, antes de iniciar o nosso diálogo a partir dela, considero de extrema importância esclarecer alguns aspectos:

Primeiro, gostaria de deixar explícito meu respeito ao entrevistado e ao direito que ele ou qualquer pessoa tem de ter sua própria opinião sobre qualquer assunto, inclusive sobre os Contos de Fadas. Nesse caso em especial, a julgar por suas credenciais e respostas, o entrevistado demonstra competência para discutir o assunto e seus argumentos serão tomados como objeto de reflexão sobre o tema.
Segundo, como não conheço pessoalmente nem entrevistador nem entrevistado, lembro ao leitor que esta matéria foi veiculada em uma mídia de ampla circulação sendo, portanto, um conteúdo público, daí a importância de analisarmos as colocações relacionadas aos Contos de Fadas e pontuarmos os aspectos coincidentes e divergentes da nossa perspectiva, ocupando aqui o lugar de interlocução, após as respostas do entrevistado, grafada em azul e indicadas pelo CT.
Esclarecimentos feitos, vamos então à matéria!
*Para conhecer essa terminologia e sua perspectiva sobre a atualidade, leia Zygmunt Bauman.




*
Folha - Para o senhor, contos de fadas não são benéficos?
Zenon Lotufo Jr. - Um dos problemas é que se generaliza, como se qualquer dessas histórias tivesse papel positivo. Muitas levam ao conformismo, usam o medo como forma de dominação e apresentam crueldades incríveis.
CT - Curiosa esta posição: conformismo, dominação e crueldade. Na minha visão, exatamente por não se conformar, a Branca de Neve foge, a Cinderela chora, a Chapeuzinho desobedece e a Bela Adormecida mergulha em um sono depressivo. O que é válido lembrar é que nem todas as pessoas reagem da mesma maneira. Entendo que se conformar é ficar alienado e agir como se a situação fosse satisfatória e não percebo esse tipo de postura nos personagens dos contos.  A atmosfera romântica dos contos não significa necessariamente conformismo, mas sim um recurso literário de construção do contexto e da identidade do leitor/ouvinte  com os personagens.
Quanto à dominação e crueldade, esses são temas bem atuais. Partidos políticos dominam as massas com seus discursos demagogos e assistencialismo, a mídia impõe hábitos e necessidades fúteis e multidões sucumbem ao individualismo galopante. Vivemos em um tempo em que serial killers e canibais se fazem presentes em diferentes países, sem falarmos da crueldade sistemática do atendimento à saúde pública e da fome nos países menos desenvolvidos. Tudo bem real!
Considerando-se a diferença entre a realidade medieval europeia e o contexto de vida em pleno mundo globalizado, o leitor/ouvinte dos contos é apenas preparado para conviver e superar as agruras da vida. Tudo bastante crível.
Até as versões "suavizadas"?
Os contos de fadas sempre foram adaptados às características de cada época. Os irmãos Grimm fizeram isso. Mas há autores que dizem que eles domesticaram os contos, que deveriam voltar a ser como eram. E eram muito cruéis. Não há provas de que a criança se beneficie disso. Esses contos surgiram em uma cultura em que o medo era moeda corrente. Todo mundo vivia com medo.
CT - Aqui, gostaria de destacar três pontos:
1.    O que o entrevistado coloca como “domesticaram os contos”, entendo como adaptações naturais ao processo de evolução da vida em sociedade. A meu ver, tais adaptações preservam a essência das histórias e as tornam pertinentes aos diferentes costumes de cada época. O pouco que talvez pudesse ser perdido nessa prática é automaticamente resgatado pela longevidade dos contos. Ou seja: se por um lado, algumas passagens são alteradas ou omitidas, por outro, o simples fato das histórias continuarem acessíveis remete os interessados às versões originais.
2.    As provas vão depender da fundamentação teórica e das convicções de cada um. Quem pesquisa e busca estudos sobre o tema, vai perceber que as crianças que interagem com as histórias tem maior desenvoltura em diversas áreas. Linguística, psicoafetiva, cognitiva, sociocultural e em muitos outros aspectos. No final desse estudo, o leitor poderá encontrar uma ampla lista de autores que oferecem e reiteram as comprovações dos benefícios das narrativas de contos de Fadas para as crianças. Mas há quem não admita tais comprovações.
3.    A cultura do medo foi típica apenas de uma época? E o que se pode dizer sobre o nazismo, a guerra fria, a repressão em países com ditadura, a violência gerada pelo tráfico, as milhares de guerras e guerrilhas, o ataque de 11 de setembro, desastres e catástrofes, a violência contra mulheres e crianças e todo tipo de abuso que sempre existiu e continuará existindo? O medo é uma sensação reativa e natural aos estímulos que podem ameaçar o indivíduo, fazendo com que ele fique em estado de alerta. É um elemento importante para que se reconheça os limites e para que se possa evitar situações de perigo.  Ele é inevitável e, dentro da normalidade, lidar com o medo gera autoconhecimento e fortalecimento da personalidade da criança.
Hoje, também vivemos com medo...Sem dúvida, mas é diferente pensar na Europa dos séculos 13 ao 18, com a cultura da culpabilização por meio da religião, as pestes, as guerras, a fome. Os contos de fadas de que estamos falando surgiram nesse contexto e em grande medida reforçavam esse medo para manter a obediência das pessoas. Em geral, culpavam as mulheres e as crianças (quando eram curiosas e desobedientes) pelos problemas.
CT - Concordo que os cenários são diferentes, mas se por um lado antigamente havia culpabilização pela fome, transmissão de doenças, etc, hoje nossas crianças convivem com muitas pressões: desde muito cedo precisam aprender a lidar com a necessidade de serem ótimos alunos, para se encaixarem em “medidinhas certas”, para serem vitoriosos nos esportes e por aí vai. E quando o resultado não corresponde à expectativa? O que acontece? Frustração e culpabilização de alguém! Isso porque não estamos falando de famílias com situações de alcoolismo, violência doméstica e tantos outros problemas de difícil solução. Ainda assim, é preciso acreditar que é possível superar as dificuldades. Além disso, os contos oferecem as crianças o ambiente ideal para vivenciar seus medos e aliviar as tensões sem correr riscos.
O fato de ter sempre um final feliz não é positivo?
A mulher e a criança raramente têm um papel ativo no final feliz. Branca de Neve, Bela Adormecida e Cinderela são salvas magicamente. Essa passividade das heroínas tem uma mensagem clara: quem é boazinha, submissa, vai ser salva por um príncipe.
CT – Interessante essa colocação. Muitos estudiosos das narrativas de contos de fadas são unânimes em afirmar que, na maioria das histórias, toda a trama é travada entre os personagens femininos: são sempre as filhas, esposas e cuidadoras que se tornam fadas ou bruxas, que sofrem e lutam. As mulheres e crianças dos contos é que enfrentam feras e megeras para conquistar o que lhes é devido. Com exceção do Príncipe Felipe, que luta com o dragão para salvar a bela princesa Aurora, os demais são meros coadjuvantes que chegam no final da história e levam os louros. Não muito diferentes de muitas famílias onde as mulheres assumem o papel de provedoras. Por outro lado, os contos estimulam a criança a acreditar que assim como cruzará com adversários, também encontrará companheiros em sua jornada.
Então não seriam histórias para as crianças de hoje?
As histórias estão aí, ninguém vai suprimir isso. Mas é importante que o adulto que conta a história discuta esses aspectos com as crianças. Outra coisa importante é pensar se são adequadas à idade. Criança muito pequena pode ficar apavorada e não vai entender uma explicação que as contextualize.
CT – Nesse ponto, concordo totalmente com o entrevistado. Ao contar a história, nada impede que o interlocutor ajude a criança a refletir sobre a história, desenvolvendo um olhar crítico-construtivo. O italiano Gianni Rodari diz que é um bom exercício perguntar a criança “e se” ao final da história, levando-a a construir outras possíveis trajetórias para os personagens da trama. Narrativas atuais, como Chapeuzinho Amarelo, Shrek e Até as Princesas Soltam Pum brincam com os enredos mais antigos e estimulam atitudes críticas tanto em relação à literatura quanto à realidade.
Quanto à adequação a idade, pesquisadores ao redor do mundo estudam exaustivamente as narrativas e a opinião geral é que a criança escolhe a história com a qual se identifica de acordo com suas demandas pessoais: fragilidades edipianas tendem a se identificar com Branca de Neve, conflitos fraternos, com Cinderela e assim por diante, daí a importância de deixa-la à vontade. Na hora de escolher a versão a ser apresentada, aí sim é importante escolher uma abordagem mais pertinente ao leitor/ouvinte, evitando versões descaracterizadas ou com linguagem inadequada.  Além de levar em consideração as características da edição, a idade e a maturidade, é preciso bom senso do adulto para proporcionar a criança uma experiência construtiva.
Há entre essas histórias as que podem ser benéficas?
Algumas têm uma mensagem claramente positiva. O "Patinho Feio", por exemplo, mostra alguém que é maltratado porque pertence a outro grupo, ajuda a entender o problema da discriminação.
CT – Curiosa essa perspectivas. O Patinho Feio é uma história de autoria de Hans Christian Andersen, portanto não é originalmente um Conto de Fadas, embora seja considerado como tal pelo senso comum. É uma história que oferece a possibilidade de se falar de preconceito, discriminação, exclusão e bullying, mas é preciso estar atento ao fato que pessoas com deficiências ou características que a façam sentir estigmatizadas não são exatamente de “outro grupo” de gente nem tampouco se transformarão maravilhosamente em seus modelos de perfeição. De certa forma, é preciso ter cuidado com essa história para não reforçar padrões estéticos e valores retrógrados. É importante que o leitor/ouvinte se aceite como é, que encontre maneiras criativas de superação das próprias limitações e que se sinta bem assim. Esse sim seria um final feliz.
Os contos podem ajudar a criança a elaborar os próprios medos, como perder a mãe ou ser abandonada?
Não há comprovação de que os contos tenham essa função e de que as crianças gostam deles por isso.
CT – Bem, em nossos encontros aqui no Caminhando, já falamos sobre isso. Em geral, todas as crianças que conhecem os contos de fadas gostam e é isso que mantém vivo essas narrativas através dos séculos. É por isso que os contos são sempre sucesso garantido!
Sobre a comprovação, ela me parece mais uma posição ideológica: quem acha que não, vai sempre encontrar justificativas para tal e quem acha que sim, se respalda em todas as pesquisas e trabalhos científicos que mostram que o quanto os contos podem ajudar o sujeito no movimento catártico de liberação das angústias e conflitos.
O leitor interessado nessa discussão, deve pesquisar, ler mais sobre o assunto e formar a própria opinião. Sugiro: Bettelheim, Amarilha, Cavalcanti, Èstes, Cashdan, Radino, Rojo e Zilberman, para citar apenas alguns. No final, disponibilizo algumas referências bibliográficas que fundamentam a discussão sobre o assunto.
E por que continuam fazendo sucesso e atraindo tanto as crianças?
Eu não sei se eles atraem mais as crianças ou os pais. Sempre foram usados como um meio de levar à obediência: não discuta, é assim mesmo. A Chapeuzinho Vermelho é curiosa e desobediente, por isso se dá mal.
CT – Com todo respeito ao entrevistado, discordo totalmente dessa resposta. Quando uma criança de três anos pede seguidas vezes para ouvir a mesma história, ela o faz investida das próprias emoções. Não adianta um adulto oferecer outra história. Ela só aceitará outra narrativa quando e se estabelecer com os personagens uma relação. Sobre o fato de alguns pais embarcarem na fantasia, é preciso lembrar que eles também foram criança e, embora todos tenham ultrapassado a idade cronológica da infância, muitos adultos tem questões emocionais mal resolvidas. Nesses casos, os contos ajudam também aos adultos.
Sobre a obediência, recorro ao desenvolvimento do juízo moral conforme Piaget e chamo a atenção do leitor para as orientações de Celso Antunes, Tânia Zagury, Içami Tiba entre outros. Em tempos modernos, se convencionou a crítica aos limites e valores morais sem se dar conta dos riscos da permissividade e dos excessos. As crianças tem sim que aprender a obedecer, pois na vida real isso é fundamental. O que aconteceria em nossas cidades se as pessoas não obedecessem aos sinais de trânsito e não pagassem os impostos conforme estabelecido? A vida em sociedade implica em direitos e deveres, ou seja, em obedecer às regras e convenções sociais, sem as quais o convívio seria insuportável! Os contos também contribuem nesses aspectos.
Em sua opinião, esses contos não cabem na cultural atual?
Tanto esses contos como muitos super-heróis modernos passam a ideia de um bem completo e um mal completo. Não acho que essa visão maniqueísta faça bem. De uma forma geral, havendo alternativa de uma coisa mais saudável e até mais "contracultural", acho melhor para a criança.
CT – Não entendi o que seria exatamente uma literatura “contracultural” para crianças e de como ela seria “mais saudável”. Sobre o maniqueísmo, concordo que ele está presente neste gênero narrativo e acredito que deve ser observado como estereótipos a serem questionados e desmistificados. Por outro lado, ele possibilita o alívio emocional,  ajuda principalmente  a criança pré-operacional a organizar suas ideias e sentimentos e a separar mentalmente e que vale a pena nessa vida e o que deve ser evitado.

Seria o caso de um filme como "Shrek", em que os personagens típicos dos contos de fada aparecem em papéis invertidos em relação aos "bons" e aos "maus"?
Pode ser. O ogro sempre foi o mal e é apresentado de outra forma, como herói. Isso é uma forma interessante de abordar o assunto.
CT – Aqui eu concordo totalmente com o entrevistado e sugiro que isso seja feito com todas as histórias, em uma conversa sobre os personagens, o enredo e diferentes contextos que se identificam com a trama. Muitos livros já trazem histórias assim, com papeis invertidos e até criando novos enredos como no caso de “O Fantástico Mistério de Feiurinha” (BANDEIRA, P.), "Os Três Porquinhos Malcriados e o Lobo Bom" (PICHON, L.) e tantos outros.
É preciso, prezados leitores, que se entenda que as narrativas de Contos de Fadas são histórias contadas em uma linguagem simbólica que acessa o inconsciente do sujeito, estabelece uma identidade entre ele e seus personagens e o ajuda a harmonizar conflitos e superar limitações. Essas histórias são um poderoso instrumento catártico, permitindo a crianças de todas as idades o direito de sentir medo, raiva tristeza e felicidade.
Gênero literário muito antigo, os contos são mais que historinhas. Eles funcionam como uma diferente dimensão da realidade, chamada por RADINO (2003) de realidade psíquica. Esse é mais um motivo que explica sua chegada aos dias atuais com o mesmo vigor dos tempos medievais, quando não existia TV, PC, DVD e outros recursos moderníssimos.
Enfim, podemos concluir com segurança que os contos não só contribuem para o desenvolvimento sócio-afetivo e cultural das crianças como se constituem nas bases para o desenvolvimento dos processos cognitivos e de aprendizagem da leitura e escrita além de proporcionarem encantadores momentos de interação. E você? Qual a sua opinião? Precisa de mais informação? Quer conhecer outras ideias? Então corra para as referências logo aí abaixo e tire suas próprias conclusões!
Mais uma vez, foi muito bom ter estado aqui no Caminhando e Contando e poder conversar com vocês sobre as maravilhosas narrativas de Contos de Fadas. Não vou me despedir porque estarei sempre por aqui e em breve retomaremos nosso diálogo sobre esse tema fantástico.
Um abraço carinhoso e ...até a próxima!

 



Cristiane Takemoto 
Fonoaudióloga, Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional, com formação em Psicanálise Clínica e Mestrado em Linguística. 




 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS:

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